quinta-feira, 26 de junho de 2014

Sobre os méritos do sofá

Vocês eu não sei. Para mim, as noções de conforto e bem-estar são muito bem preenchidas por um personagem desses que qualquer casa, até a mais humilde, tem: o sofá. A qualquer hora da manhã, da tarde ou da noite, sento-me na sala e sinto-me abençoado. Ao meu lado já estiveram Shakespeare, Dostoiévski, Machado, o Bruxo do Cosme Velho, as divinas Emily Dickinson e Wislawa Szymborska, entre tantos outros e tantas outras. Tenho sempre dois ou três desses amigos à mão e com eles faço diariamente as viagens com que sonhei na infância. Meu sofá é meu barco, e meus marujos conhecem todas as rotas da vida. Deixo-me conduzir para o mar por Conrad, para o mau caminho por Bataille, para o absurdo por Kafka, para o niilismo por Beckett. E, para os caminhos da morte, se eu quiser explorá-los, conto com Florbela, Virginia, Ana Cristina, Sylvia. Meu sofá é cada dia mais meu barco, minha casa. Dele só sairei para uma viagem longa e única, na qual não poderei levar meus livros.

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