sábado, 26 de julho de 2014

"La belle dame sans merci", de Eugenio Montale

"Sem dúvida as gaivotas esperaram em vão
as migalhas de pão que eu lhes lançava
em teu balcão para que ouvisses
mesmo ferrada no sono os seus estrídulos.

Hoje faltamos os dois ao encontro
e o nosso café da manhã esfria entre as pilhas
para mim de livros inúteis e para ti de relíquias
que ignoro: agendas, estojos, vidros e cremes.

Maravilhoso o teu rosto se obstina ainda, recortado
sobre o pano de fundo de cal da manhã;
mas uma vida sem asas não o alcança e o seu fogo
sufocado é o lampejo de um isqueiro."

(Do livro Poesias, tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti, publicado pela Record.)

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