quarta-feira, 23 de julho de 2014

"Os corvos", de Rimbaud

"Senhor, quando os campos são frios
E nos povoados desnudos
Os longos ângelus são mudos...
Sobre os arvoredos vazios
Fazei descer dos céus preciosos
Os caros corvos deliciosos.

Hoste estranha de gritos secos,
Ventos frios varrem vossos ninhos!
Vós, ao longo dos rios maninhos,
Sobre os calvários e seus becos,
Sobre as fossas, sobre os canais,
Dispersais-vos e ali restais.

Aos milhares, nos campos ermos,
Onde há mortos recém-sepultos,
Girai, no inverno, vossos vultos
Para cada um de nós nos vermos,
Sede a consciência que nos leva,
Ó funerais aves da treva!

Mas, anjos do ar, no alto da fronde,
Mastro sem fim que os céus encantam,
Deixai os pássaros que cantam
Aos que no breu do bosque esconde,
Lá, onde o escuro é mais escuro,
Uma derrota sem futuro."

(De Rimbaud livre, tradução de Augusto de Campos, publicado pela Perspectiva.)

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