terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A pergunta no jardim

Todo dia ela gasta duas horas regando as plantas. Quinze minutos bastariam. Conversa com cada uma delas, enquanto cuida para que a água se derrame devagar, quase gota a gota. Usa uma jarra de vidro. Parece-lhe adequada. Enche-a várias vezes e, ao enchê-la, para não parecer que privilegia as plantas, conversa com ela, a água e a torneira. Tudo que faz é assim, com amor. A mãe já lhe dizia, quando ela era menina, que esse temperamento a faria sofrer muito. Ela não se vê como uma sofredora. A irmã diz que ela é mais do que isso, é uma sonsa. É isso que ela pergunta agora à pitangueira: você me acha sonsa, querida? É uma pergunta que faz todos os dias. Nenhuma planta responderá. Todas gostam dela, todas a amam, justamente por ela ser assim bobinha, assim boazinha, assim sonsa.

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