terça-feira, 30 de junho de 2015

"Cemitério pernambucano (Nossa Senhora da Luz)", de João Cabral de Melo Neto

"Nesta terra ninguém jaz,
pois também não jaz um rio
noutro rio, nem o mar
é cemitério de rios.

Nenhum dos mortos daqui
vem vestido de caixão.
Portanto, eles não se enterram,
são derramados no chão.

Vêm em redes de varandas
abertas ao sol e à chuva.
Trazem suas próprias moscas.
O chão lhes vai como luva.

Mortos ao ar livre, que eram,
hoje à terra livre estão.
São tão da terra que a terra
nem sente sua intrusão.

(De Antologia poética, publicada pela José Olympio Editora.)

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