terça-feira, 21 de julho de 2015

Um trecho de Alejo Carpentier

"Dez vezes mais tornou a passar defronte a ela sem se atrever, enquanto a mulher, certa de tê-lo hoje ou amanhã - sabendo-se escolhida - , aguardava-o sem constrangimento. Uma tarde, enfim, a porta azul da casa se fechou atrás dele. Nada do que lhe aconteceu num quarto calorento e estreito, sem outro enfeite senão anáguas penduradas num prego, lhe pareceu muito importante ou muito extraordinário. Certos romances modernos de crueza jamais conhecida haviam lhe revelado que a verdadeira voluptuosidade obedecia a impulsos mais sutis e partilhados. No entanto, durante várias semanas voltou, todo dia, ao mesmo lugar; precisava mostrar a si mesmo que era capaz de fazer, sem remorsos nem deficiências físicas - com crescente curiosidade em passar sua experiência a outros corpos -, o que faziam, muito naturalmente, os rapazes da idade dele."

(De O século das luzes, tradução de Stella Leonardos, publicação da Global Editora.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário