quarta-feira, 8 de junho de 2016

"Dia e noite", de Eugenio Montale

"Até uma pluma voando pode desenhar
tua forma, ou o raio que brinca de esconder
entre os móveis,  ricocheteando dos tetos,
o reflexo do espelho de um menino. Sobre a borda dos muros
rastros de vapor alongam a agulha
dos choupos e embaixo, em seu poleiro, arrufa-se o louro
do amolador. Depois a noite sufoca
na pracinha, e os passos, e sempre este tremendo
esforço de afundar para ressurgir iguais
dentro de séculos, ou de instantes, de pesadelos que não podem
reencontrar a luz dos teus olhos no incandescente
antro - e os mesmos gritos e os longos
prantos na varanda
se ecoa de repente o tiro que te arroxeia
a garganta e te rompe as asas, oh perigosa
anunciadora da aurora,
e despertam-se os claustros e os hospitais
a um lancinante clamor de cornetas..."

(De Poesias, tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti, edição da Record.)

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