terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

De Henri-Frédéric Amiel

Sobre a fé - "Os erros sagrados têm vida mais dura que nenhuma verdade; não se deve degolá-los senão com  respeitoso cutelo. O que o padre abençoou está embalsamado por séculos, embora uma obscuridade, embora um crime, É propriedade da fé assegurar asilo ao que ela protege, asilo inviolável mesmo à verdade. Assim defende-se  a fé religiosa mesmo contra o próprio Deus, se Deus não der a senha e não mostrar a patinha branca à porta que deseje ver aberta."

Sobre a fé - "A fé é uma certeza sem provas. Sendo uma certeza, é um enérgico princípio de ação. Sendo sem provas, é o contrário da ciência. Daí, os seus dois aspectos e os seus dois efeitos. É na inteligência que está o seu ponto de partida? Não. O pensamento pode abalar ou afirmar a fé, não engendrá-la. Está na vontade a sua origem? Não. A vontade boa pode favorecê-la, a má impedi-la, mas não se crê por vontade, e a fé não é um dever. A fé é um sentimento, porque é uma esperança; é um instinto, porque precede a todo sentimento exterior. A fé é a herança do indivíduo ao nascer, o que liga ao conjunto do ser, é, por assim dizer, o cordão umbilical da sua alma."

Sobre a filosofia - "A filosofia é a dúvida, primeiro, e depois a consciência da ciência, a consciência da certeza e da ignorância, a consciência dos limites, das nuanças, dos graus, dos possíveis. O homem vulgar de nada duvida e de nada suspeita. O filósofo é mais circunspecto. É, mesmo, impróprio para a ação, porque, vendo menos mal do que outros o fim, mede demasiado bem a sua fraqueza, e não se engana sobre as suas probabilidades."

(De Diário íntimo, tradução de Mário Ferreira dos Santos, publicado pela É Realizações.)

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