domingo, 7 de janeiro de 2018

O nome do morto

Ontem estive tentando lembrar-me do nome de um morto antigo, um gorducho simpático que nunca se negava a devolver a bola aos meninos quando ela caía na sua casa. Revi cenas do velório, o seu corpo no centro da sala, as velas, as lágrimas da mulher, dona Clara. Lembrei-me também de como ela o chamava, ainda, lamentosa. Nílson, Nélson, Gérson? Era um nome assim. Depois recuperei na memória a chegada de uma chuva desatada e, vindo com ela, uma garota maravilhosamente bela. Ela entrou e, sacudindo-se, esparramou pingos pelo assoalho. Disseram-me que morava no Rio. Nunca mais eu a veria. Chamava-se Iara e, enquanto eu recordava seus cabelos, pelos quais a água  escorria, desisti de saber o nome do morto e o deixei dormindo ao som da chuva crescente.

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