sexta-feira, 15 de junho de 2018

A condessa

Há anos me pergunto por que a condessa acabou dispensando os meus serviços. Venho chegando a conclusões que a retratam como uma mulher dada a pequenas crueldades, mas a hipótese mais provável é esta: eu não era hábil o bastante nas tarefas nas quais eu devia substituir o conde e que, embora eu achasse especiais, para a condessa tinham o mesmo valor que as outras tantas que me cabiam como lacaio. Eu era inapto, inepto, despreparado, talvez mais que o conde, para aquilo que ela esperava de mim. Ela me ensinou dois ou três truques de alcova, é verdade, mas eu tão mal os aprendi que, na prática, eles não serviram ao prazer dela nem acrescentaram nada significativo aos meus conhecimentos. Notando certamente que com minha ingenuidade eu a via como uma espécie de objeto sagrado, o que não lhe convinha, ela uma manhã me deu a notícia, como se me comunicasse que à tarde choveria, de que iria acertar minhas contas.

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