quarta-feira, 11 de julho de 2018

Um soneto de Mário Cesariny

"a velha que vende bananas
o velho roxo de calor
o rapaz que grita sacanas
deem-me um pouco de amor

a outra viagem por mar
o jovem que já é livreiro
a camionete a esmagar
o túmulo de Sá-Carneiro

o sapato branco do réu
a imobilidade do rato
que rói a ala esquerda do hidro

a mão ereta contra o céu
o céu de súbito contrato
a água a morte a mosca o vidro."

(De Manual de prestidigitação, Assírio & Alvim, Lisboa.)

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