quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Poema de Joseph Brodsky

"Eu era apenas quanto
a tua mão tocasse
ou sobre o que inclinavas,
no breu da noite, a face.

Eu era, embaixo, quanto
Notavas turvo, apenas:
traços, no início, vagos;
feições, mais tarde, plenas.

Foste quem logo, ardente,
Criou-me a sussurrar,
seja à direita, às esquerda,
a concha auricular.

Foste, a agitar cortinas,
quem, na umidade cava
da boca, introduziu-me
a voz que te chamava.

Eu era cego e, vindo,
sumindo-te de mim,
doaste-me a visão.
Fica um vestígio, assim.

E, assim, criam-se mundo
que são postos de lado,
girando,quando prontos,
presente abandonado.

Em meio, pois, de treva
e luz, calor e frio,
prossegue o nosso globo
seu giro no vazio."

(Do livro Quase uma elegia, tradução de Boris Schnaiderman e Nelson Ascher, publicado pela Sette Letras.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário