Ontem fui um casarão
Onde brincavam meninos,
Onde cantavam meninas.
Nem sei onde agora estão,
Sou hoje todo ruínas.
Ontem fui um casarão
Onde brincavam meninos,
Onde cantavam meninas.
Nem sei onde agora estão,
Sou hoje todo ruínas.
Um dia, o menino acordou sentindo-se esquisito. Era como se tivesse envelhecido alguns anos durante a noite. Recusou-se a brincar com o cachorro. Tossiu uma tosse seca e, com uma dorzinha nas costas, tomado por um mau pressentimento, abaixou-se e puxou, de baixo da cama, a caixinha em que guardava seus tesouros. Tinham sumido todos os seus domingos.
Sou o que de mim fizeram
Os sonhos da juventude:
Falharam os promissores
E também os que não eram.
Se eu fosse resumir o que andei fazendo na vida, não precisaria usar mais do que um verbo - escrever - e alguns advérbios: muito, pouco, bem, mal, apaixonadamente, desesperançadamente.
Sou indigno de minha tristeza. Não a exprimo bem. Se a exprimisse, vocês deveriam estar chorando. Vocês estão?
Quisera ser teu violino e que me ferisses tão agudamente quanto deve ser ferido sempre um violino.
Quem diz que sou bem-humorado e me felicita por isso não imagina quanto me custam os sorrisos e como me sinto falso depois de cada um deles.
Fui tão triste quanto pude. Pude pouco. Minha tristeza bastou ao homem, mas foi insuficiente para o poeta.
Depois que o gato morreu, e o sol que toda tarde brincava com ele na sala deixou de vir, o sofá definhou algum tempo ainda e se foi também, levado por um belchior pechincheiro.
Hoje ele admite que só foi verdadeiramente poeta naqueles anos em que um atribulado amor o munia diariamente com as mais legítimas e desesperançadas lágrimas.
Nos sonhos eu jamais rio.
Nos sonhos sou um menino
Que cumpre amargo destino
E morre de fome e frio.
Quem há de dar-nos ouvidos,
Depois de nossos maus passos,
Depois de tantos fracassos
E tantos jogos perdidos?
Quem há, se não os vencidos,
De, acolhendo-nos nos braços,
Perdoar nossos erros crassos,
Iguais aos seus cometidos?
Esses, descrentes da glória,
Ouvirão a nossa história
Com respeito e compaixão.
Os outros, os que ainda creem,
Se raciocinarem bem,
Seus ouvidos fecharão.
Chegou o tempo. É hora já de dar
Adeus às grandes obras e aos opúsculos,
De a toda fama e glória renunciar
E às auroras, e às tardes e aos crepúsculos.
Estando já naquela egrégia idade
Que dizem ser a da sabedoria,
Sem hesitar eu toda a trocaria
Por uma hora de tola mocidade.
Compreendo a má vontade com que os coaches literários costumam ser vistos. Mas não é verdade que o de Suzannah Nepomuceno Azambuja, candidata a romancista, lhe recomendou, como condição para se aventurar em obras de maior fôlego, banhos gelados e caminhadas diárias de cinco quilômetros.
Fechei-me em mim, me escondi,
Comigo escolhi viver.
Assim fiz, assim vivi,
Que mais lhes posso dizer?
Se os dias frios estão
E já sorrir-nos não querem,
Pensemos como serão
Os últimos, quando vierem.
Não posso dizer que estou feliz com a minha idade. Já há algum tempo venho esquecendo quase tudo, menos meus ideais. Principalmente os malogrados.
A primeira recomendação do coach literário a Susana Nepomuceno Azambuja, candidata a romancista, foi: "A partir de hoje, então, você já sabe: Suzannah, com z, dois enes e h.
Ela se vira e revira na cama, sozinha e saudosa. Não imaginou que o rapaz pudesse ser tão sério. Há três noites ela pediu que ele trouxesse a lua, e há três noites ela abre a janela e a lua continua lá em cima.
Os concretistas reivindicam, com toda a razão, a autoria dos únicos castelos de autêntica areia da literatura.
Tornou-se um velho sentimental. Hoje, chorou ao rever a cicatriz do joelho e a mancha do pescoço - uma do tempo no qual, moleque, ia pilhar frutas em casas alheias, a outra da época em que, já um homem, viveu com uma espanhola fogosa.
Quando descobriu que era do mal de amor que padecia, rogou a Deus que o matasse aos poucos, bem aos pouquinhos.
No meu sonho então ele apareceu
E disse-me: não chore, é primavera.
Não revelou o nome, mas vi que era
Casimiro José Marques de Abreu.
Não deves esmorecer,
Tudo tu conseguirás.
Se um tolo é o que podes ser,
Um tolo é o que tu serás.
Quando, com sua verve de palhaço,
Me arremeda no andar e no cair,
Fazendo tudo errado, como eu faço,
Mister Parkinson mata-me de rir.
Por que insistir?
Você sabe há muito que
Não pode existir,
Mais triste que o seu, um canto.
No entanto você insiste.