Há alguns dias disse que estava lendo um romance de Sándor Márai - De Verdade - e, numa atitude quase leviana, o recomendei como obra notável. Hoje, lidas as 445 páginas do livro, posso dizer, com alívio e muito prazer, que não me arrependo do arroubo. É mesmo uma obra dessas que o leitor não esquece. Sándor Márai, no seu texto, comparável ao dos maiores ficcionistas, analisa as paixões humanas com a segurança que só um homem afeito a essas paixões poderia ter. É uma história de amor, ódio, inveja, ciúme, rancor, vingança, contada por quatro narradores, cada um contestando (ou enriquecendo com detalhes) a versão dos outros. Vai aqui mais um trecho do romance:
"Em toda vida de verdade chega um momento em que mergulhamos numa paixão, como se nos atirássemos nas cataratas do Niágara. E, naturalmente, sem colete salva-vidas. Não acredito nos amores que começam como uma excursão ao piquenique da vida, de mochila e com cantos alegres na mata ensolarada... Sabe, o sentimento transbordante de "festejo" que permeia o início da maioria das relações humanas... Como ele é suspeito! A paixão não festeja. A força sombria que ao mesmo tempo cria e extermina o mundo não espera resposta de quem ela atinge, não pergunta se ele está bem, não se ocupa muito dos sentimentos humanos de reciprocidade. Dá tudo e exige tudo: a paixão incondicional cuja energia mais profunda é a própria vida e a morte. Não se pode conhecer a paixão de outro modo... e como são poucos os que chegam lá! As pessoas fazem cócegas uma na outra e se acariciam na cama, mentem muito e falseiam os sentimentos, tiram, avarentas, do outro o que é bom para elas, e da própria felicidade talvez empurrem um resto para o companheiro... E elas não sabem que isso tudo não é paixão."
...de arrepiar
ResponderExcluirTuna, tinha ouvido falar de Sándor Márai, conhecia seu prestígio, mas peguei esse romance por acaso na biblioteca do meu bairro. Pretendo ler, e logo, outros livros dele. Alguns são citados na orelha do romance: As Brasas, O Legado de Eszter, Veredicto em Canudos, Rebeldes, Divórcio em Buda e Confissões de um Burguês.
ResponderExcluir