Na contracapa de um romance de Vladimir Nabokov, encontrei esta comparação entre amor e amizade - provavelmente óbvia, mas brilhante:
"Não posso deixar de sentir que há algo essencialmente errado acerca do amor. Os amigos podem altercar e se separar, os parentes próximos também, mas não existe nunca esta dor, este 'pathos', esta fatalidade que se agarra ao amor. A amizade não tem jamais este aspecto de condenação. Por que assim é? Não deixei de amá-la, mas, como não posso continuar a beijar seu rosto vago e querido, precisamos nos separar. Por quê? Por que isso? Que significa essa misteriosa exclusividade? Podemos ter mil amigos, mas apenas uma companheira. Os haréns nada têm a ver com este assunto: falo de dança, não de ginástica. Ou será que se pode imaginar um incrível árabe a amar as suas quatrocentas esposas como eu a amo? Pois, se digo "duas", já comecei a contar, e a coisa já não acaba nunca. Há apenas um número verdadeiro: um. E o amor, ao que parece, é o melhor expoente dessa singularidade."
("A verdadeira vida de Sebastião Knight", Vladimir Nabokov, tradução de Brenno Silveira, editora Francisco Alves.)
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