O velho escritor, agora contratado por um novo selo e fazendo muito sucesso, mandou convite aos amigos da antiga editora para o lançamento de mais um livro. Só um não foi convidado, exatamente o que mais havia trabalhado nas primeiras novelas do autor para torná-las mais legíveis. Esse, ressentido, foi à noite de autógrafos e espantou-se com os mais de mil fãs aglomerados na fila, que extravasava da porta da livraria para as ruas dos arredores. Viu de longe o escritor, com seu sorriso de triunfo, e observou, numa estante um tanto afastada da mesa central, a nova mulher dele, a terceira, esguia e linda como uma modelo. Com dificuldade, aproximou-se dela e exclamou, procurando parecer tolo:
"Puxa, quanta gente. Esse escritor deve ser importante."
"É", ela disse, "ele é, sim."
"Eu não conheço, mas acabaram de me contar uma coisa sobre ele. Pode ser inveja, mas me disseram que ele não gosta de mulheres. Disseram..."
"Ei", começou a mulher, mas, antes que pudesse falar mais alguma coisa, o ressentido concluiu:
"... que ele tem um amante de vinte anos, o baterista de uma banda de rock."
E saiu rápido, desvencilhando-se das pessoas e saindo feliz para a rua.
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