sexta-feira, 14 de maio de 2010
Pequenas alegrias urbanas (111) -- Quatro meses
Anos depois de mandar passear um homem que durante quatro longínquos meses lhe havia parecido levemente interessante, caiu-lhe nas mãos uma daquelas agendas antigas, de papel, e, vendo ali o nome dele, ela foi tomada por uma surpreendente nostalgia. Passou-lhe pela cabeça que talvez ele fosse mesmo interessante e isso a levou a pegar o telefone. Poderia, quem sabe, sentir outra vez ao menos alguns dos sinais que em dois ou três dias, dos cento e vinte nos quais convivera com o homem, a haviam feito pensar que se tratava de possíveis, embora tênues, manifestações de amor. Com o dedo já roçando uma tecla, ela imaginou: e se, como era bem provável, o homem não despertasse nela nem mais aqueles sinaizinhos? Tinha apertado duas teclas, e não apertou mais nenhuma. Disse em voz baixa mas definitiva, como algum tempo antes, "Comigo não, Sebastião", deu uma mordiscada distraída num pãozinho de queijo e pôs o telefone e a velha agenda de lado.
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