segunda-feira, 17 de maio de 2010
Pequenas alegrias urbanas (121) -- Autossuficiência
Aos quinze anos, tendo lido um livro de Machado de Assis e um de José de Alencar, achou este superior. Passados dez anos, mudara de opinião: Machado era um escritor, Alencar era um escrevinhador. Aos trinta, sentindo-se pronto para a aventura literária, mandou um original ao tio, professor de letras clássicas, que lhe disse jamais haver visto coisa pior: "O que você vai conseguir, no máximo, é um emprego de redator de folhetos de turismo." Aos quarenta e dois, com três romances publicados, tinha uma convicção, toda dele, inabalável, de que nenhum livro, nem de Machado, nem de Alencar, nem daquele português Saramago, valia uma frase sequer das que ele escrevia.
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