quinta-feira, 20 de maio de 2010
Pequenas alegrias urbanas (129) -- Ritual
Não estariam tão alvoroçadas as três garotas que, na hora de fechar a lanchonete, ouviram o freguês impressionantemente belo oferecer carona a uma delas -- aquela cujo caminho estivesse mais de acordo com o dele --, e nem estariam tão excitadamente esperançosas se pudessem pressentir que naquela noite ele mais uma vez seguiria o ritual de seduzir com seus olhos tristes uma mulher, fazê-la arder de expectativa amorosa, levá-la no carro até uma estrada e, parando no acostamento depois de uma curva, apontar uma cruz, dizer que ali havia morrido sua esposa e, soluçando, tomar o caminho de volta e perguntar à acompanhante se ela havia entendido por que ele não podia, por que ele nunca mais poderia fazer o que no percurso talvez ela tivesse esperado dele.
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