domingo, 2 de maio de 2010
Pequenas alegrias urbanas (79) -- O bisão
O menino de cinco anos estava maravilhado com o passeio, com os macaquinhos pulando de galho em galho, com os marrecos berrando na lagoa, com as emas andando imponentes e com os veadinhos que, rodeando o carro no qual ele estava com o pai e a mãe, pediam comida e vinham comê-la educadamente nas mãos dos três. Enquanto o pai e a mãe elogiavam a organização do parque, o carro parou diante de um cercado em que um bicho enorme e estranho olhava melancolicamente para cima. Como ele se chama?, o menino perguntou e, ouvindo que era um bisão, quis saber por que ele parecia tão triste. A mãe disse que devia ser porque ele não gostava de ficar preso. E por que ele não sai?, disse o menino, vendo que para conter o bisão havia só uma cerca evidentemente frágil. Antes que viesse a resposta, ele mesmo descobriu, por uma tabuleta pregada ali, com a imagem de um raio, por que o bicho não escapava. Era uma cerca elétrica. Coitado, falou baixinho o menino, enquanto o pai e a mãe imaginavam quantos choques teria levado o bisão até aprender a não ultrapassar seus limites. O passeio estava estragado, para os três, e nada mais pôde salvá-lo, nem os leões nem os tigres, porque havia em volta deles também, quase invisível mas cruel, uma cerca igual à que aprisionava o bisão. O pai ainda tentou consolar o menino, que agora chorava. Comprou para ele, na lojinha do parque, um macaquinho felpudo. Já a caminho de casa, o menino, sem que o pai e a mãe vissem, deixou o macaco cair pela janela do carro, o que aliviou um pouco, mas só um pouco, a angústia que sentia no peito e o acompanharia ainda por muitos anos.
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