O que o comoveu não foi a perna mecânica do menino, nem seu rosto cadavérico, nem os olhos purulentos, nem os braços cobertos de feridas, nem a voz sofrida com que ele lhe pediu dinheiro. Foi a reverência quase mística com que pegou o dinheiro, o sorriso que por um instante lhe melhorou o rosto e, mais do que tudo, o beijo que, provavelmente por instrução de quem lhe explorava a miséria, ele deu na nota velha - como se fosse um fiel encostando os fervorosos lábios na imagem de uma santa ou um menino saudável, com as duas pernas boas, que deixasse por um momento de chutar sua bola e, com ela debaixo do braço, entrasse numa sorveteria para lambiscar um sorvete de morango.
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