sexta-feira, 2 de julho de 2010

Lírica (150) - O livro

Um corpo, dois corpos, a ânsia mútua, a busca frenética, a posse, a entrega, o cansaço, o descanso, o torpor. Isso, que ele nunca havia vivido, era o amor?, perguntava-se o rapaz, toda noite, e, dizendo a si mesmo que não, pegava um livro de poesia e buscava nele a resposta. Dormia atormentado pelo corpo, pelos corpos, pelo entrelaçamento deles, por suspiros e arquejos, e acordava suado, febril, inquieto. Certa madrugada, perseguido no sonho pela visão que o obcecava, apanhou a coletânea de poesia e abriu-a numa página que falava de amores castos, mas um minuto depois o livro estava amarrotado em suas mãos e, rolando na cama, ele mordia o travesseiro e lhe murmurava palavras que não estavam em texto nenhum.

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