sexta-feira, 16 de julho de 2010
Lírica (153) - Mona Lisa
Não conhecia rosto mais belo e fascinante que o da mulher amada. De vez em quando, uma estrela de cinema ou de tevê o deixava em dúvida, mas só por uns momentos. Ninguém ignorava sua obsessão, que era seu assunto predileto, quase único. Tinha dezenas de fotos da amada e, um dia, pegando um lápis bem fino, cujas marcas poderiam ser facilmente apagadas, resolveu ver se conseguia enfear seu rosto. Desenhou nele um bigodinho e um cavanhaque. Sorriu, pois o efeito lhe pareceu levemente cômico, mas, olhando melhor, concluiu que o rosto continuava belo, talvez até mais do que antes. Para confirmar o acerto de sua opinião, mostrou a foto modificada a dez amigos, que não se pronunciaram. O décimo primeiro, porém, o aconselhou a procurar um terapeuta. Ele disse que já tinha um, fazia dez anos, e insistiu: "Ela é bonita de qualquer jeito, não é?"
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