domingo, 18 de julho de 2010
Lírica (171) - Desvarios
Fazia cinco anos que ele não recebia uma notícia dela e nem mesmo poderia dizer se ela estava viva, se não fossem os desvarios dos seus sentidos, que a viam a todo instante, e a tocavam, e se embriagavam com o perfume adocicado dos seus cabelos e provavam o batom dos seus lábios. Cinco anos, mais dois meses, e vários dias, e algumas horas e minutos, e os segundos que seu cérebro registrava, sem perder um sequer. Todo esse tempo passara, mas ele acreditava ainda que, num momento qualquer, que ele esperava sempre que fosse o seguinte, ela se lembrasse de certa manhã e se sentisse em comunhão com ele, como então estivera. Para cumprir a sua parte, não havia um segundo de sua vida em que ele não estivesse pensando nela, no seu sorriso, na voz grave e nos olhos que o haviam hipnotizado naquela distante manhã.
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