segunda-feira, 19 de julho de 2010
Lírica (175) - O rio
Todos os dias, quando o homem acordava, o rio já estava deslizando diante dele - devagar, para que seus olhos pudessem apreciá-lo. Ele, enquanto dava os últimos bocejos, olhava para o rio, às vezes também para o sol, rapidamente, e se esquecia logo dos dois, solicitado pela vida. Saía e quando voltava, à noite, o rio pedia à lua e às estrelas que brilhassem sobre suas águas, esperando que assim o homem olhasse para ele, mas o homem não olhava, nem para ele, nem para a lua, nem para as estrelas. Enquanto o homem, um daqueles que se consideram sempre lesados pela sorte, dormia, o rio compunha uma cantiga para embalá-lo e consolá-lo dos infortúnios. Passaram-se anos assim, tempo em que o homem, solitário, definhou, porque a ele não tinha sido dada nem sequer a ventura de um amor. No entanto, assim como o rio, o amor por anos e anos havia passado diariamente diante dos seus olhos, e se mostrado, e cantado enquanto ele dormia.
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