Devia a ela - e lhe agradecia por isso - a agonia lenta que o estrangulava quando vinha o crepúsculo, as recordações que escavavam sua alma e subiam à tona com lágrimas, as lembranças e relembranças dos gestos dela, da voz, dos sorrisos, dos rabiscos deixados numa toalha de restaurante, de uma foto prometida e não dada, e lhe devia também a dor que o roía por dentro e a devastação que o sofrimento desenhava sem piedade no seu rosto. Devia a ela tudo isso - e lhe agradecia -, porque era ainda uma forma, a única e a melhor que ele conhecia, de se sentir vivo, porque ligado a ela, embora essa vida fosse como a luz indecisa de uma vela colocada no topo de um morro numa noite de chuva.
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