terça-feira, 27 de julho de 2010
Lírica (271) - Os olhos
Já na primeira vez em que olhou para os olhos dela, sentiu que estava cativo deles. Apesar do seu plácido azul, os olhos tinham algo que o fez pressentir uma vaga ameaça de calamidade, e seu instinto de sobrevivência lhe deu um recado que ele, porém, nem naquele nem em nenhum outro momento quis ouvir. Adivinhou, subjacente, um azul mais carregado, um azul-ferrete perigoso, de pré-tempestade, e, nas várias vezes em que se viram depois, ele jamais a olhou que não fosse de esguelha. Temia ser devorado pelo animal que imaginava estar oculto atrás da limpidez daquele azul. Na noite em que, sem saber exatamente como, se encontrou com ela num quarto e ela apagou a luz, os piores e os melhores receios dele se confirmaram.
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