quinta-feira, 29 de julho de 2010
Lírica (289) - O indesejável
Amou tanto, entregou-se tanto ao amor, sofreu tanto por ele, que começou a ser visto com desconfiança. Só podia ser antiquado ou louco, era fácil ver. Se o deixassem sem uma reprimenda, acabaria certamente se ajoelhando diante da amada no meio da rua ou contratando um aviãozinho para escrever no céu o nome dela. Esses comentários, cada vez mais constantes, eram feitos entre risos. Só assim ele era levado a sério: como se fosse uma piada. Um dia, porém, quando por um arrebatamento amoroso ele chorou (não no sentido figurado, mas vertendo lágrimas, lágrimas de verdade), pressentiram que, além de ridículo, ele poderia ser perigoso: o que aconteceria se o seu comportamento exaltado passasse a atrair adeptos e abalasse tantas décadas de conquistas, que se exprimiam agora em amores maduros, controlados, dentro das melhores normas pessoais e sociais? Fecharam-lhe as portas.
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