segunda-feira, 5 de julho de 2010
Philip Roth (3)
No século passado, a literatura nos Estados Unidos foi assombrada por uma obsessão: a do grande romance de geração e, por extensão, a do grande romance americano, aquele capaz de traduzir com perfeição e brilho o espírito daquele imenso país continuamente empenhado em definir sua identidade. Grandes nomes se lançaram à tarefa. Norman Mailer julgou tê-la realizado, e também William Styron, e tantos outros. Truman Capote praticamente enlouqueceu na sua sempre adiada e frustrada tentativa. John Steinbeck, um pouco antes, com As Vinhas da Ira, pareceu o mais próximo dessa realização. Digo isso, ressalve-se, sob o meu ponto de vista de leitor, sem nenhuma base nem aprofundamento crítico. Até recentemente, jamais pensei que Philip Roth, um escritor que me parecia esgotado em sua capacidade criadora, ligada ao esplendor do sexo e da juventude, pudesse ter feito esse grande romance-síntese americano. Voltei a ler Roth este ano (Fantasma Sai de Cena, um livro de 2007, com que uma amiga me presenteou) e me surpreendi muito ao notar que ele, até então para mim "apenas" um admirável escritor, tivesse se tornado um extraordinário clássico. Tendo renovado meu interesse por ele, fui à biblioteca do Centro Cultural e ali peguei Pastoral Americana. Sua leitura me deixou a convicção de que ao sempre lastimado fato de Virginia Woolf e Jorge Luis Borges, por exemplo, não haverem sido agraciados com o Nobel se junta, com igual peso, a circunstância de Philip Roth também não ter recebido o prêmio. Notável, obra-prima, brilhante, estupendo e quaisquer outros desses qualificativos que costumam ornar como brincos as orelhas de certos livros são perfeitamente justificáveis no caso da Pastoral Americana. Philip Roth conseguiu, com sua linguagem atual, vigorosa e rude, quando necessário, proezas como a de tornar a descrição do processo de fabricação de luvas no meio do século passado uma epopeia comparável à narração da caça às baleias em Moby Dick - algo que parece fruto de pura magia, e é: a magia de Roth. Indicar sua leitura é um ato de amor àqueles que ainda acreditam na literatura. Vida longa a Philip Roth, e a nós, para que desfrutemos o prazer e a bênção de acompanhá-lo em sua arte.
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