terça-feira, 3 de agosto de 2010
Lírica (339) - Teatro
Quando a peça estreou, ele tinha vinte anos, a mesma idade da atriz com quem atuava. Eram só os dois em cena, num enredo simples: um rapaz e uma garota que, amando-se, não tinham coragem de confessar esse amor. O tempo corria e, vinte anos mais tarde, continuavam apaixonados e ainda sem coragem de declarar o amor. O personagem já era quase um senhor no terceiro ato, assim como a personagem, mas tudo havia permanecido como no ato inicial. Nas primeiras semanas o ator não achou que a peça fosse durar muito, mas ela fez sucesso, outras cidades quiseram vê-la e hoje, vinte anos passados em excursões contínuas, ele todas as noites encena o texto com a garota. No início, encantou-se com ela e imaginou que pudesse ser amor. Embora ela desse sinais de sentir o mesmo, ele, talvez influenciado pela peça, procurou esquecer o ímpeto amoroso e conseguiu. E todas as noites, vinte anos depois, ele e ela colhem ainda os aplausos de um público entusiasmado que, porém, às vezes acha inverossímil a história.
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