quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Lírica (496) - Granito
Jamais quis se entregar ao amor. Conseguiu fugir dele na infância, na puberdade, na adolescência, e para fazer jus à maturidade, quando a ela chegou, fechou-se ainda mais. Olhava com desprezo os que se debatiam em teias amorosas, os que suplicavam, os que choravam, os que morriam por aquela tolice. Aproximando-se da senectude, amou moderadamente um gato, um cachorro e meia dúzia de pombas que às vezes, com vergonha e irritação, alimentava. Quando morreu o gato, e logo em seguida o cachorro, enfiou-os num saco de lixo e foi jogá-los bem longe de casa, porque ninguém soubera desse afeto furtivo e ele queria que assim continuasse. Deixou de alimentar as pombas e lamenta apenas não ter feito isso antes. Desde os vinte anos vive sozinho e no seu rosto se lê a autoestima dos homens que, tendo uma convicção, conseguem mantê-la.
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