quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Lírica (799) - Quintaninha
Sonhei que eu tinha três anos e andava com Mário Quintana por uma rua cheia de árvores. Vi alguma coisa no ar, indo de uma árvore a outra, como se procurasse algo em cada uma. Perguntei a Mário Quintana o que era aquilo. Ele respondeu: "É um passarinho." Andamos mais um pouco e, vendo outro passarinho, eu disse a três mulheres sentadas num banco: "É um passarinho." Mas elas puseram delicadamente o indicador nos lábios. Explicaram-me que ali, naquela rua, por uma homenagem que prestavam a Mário Quintana, só ele podia chamar um passarinho de passarinho. Perguntei: "Deus também pode?" Elas sorriram e, pelo sorriso, eu soube que a resposta era sim.
Mário Quintana é um deus. Só isso que tenho a dizer. Um deus bem particular, gauche e meio doido, mas bem do jeito dos quais me seduzem e fazem com que acredite em seus vaticínios.
ResponderExcluirAfinal de contas, eles passarão e eu passarinho.
Sim, o Mário Quintana é um deus - o mais humano e simples que conheço. Tão quieto, tão sábio, tão irresistivelmente humano.
ResponderExcluir