terça-feira, 19 de outubro de 2010
Lírica (1.009) - O peixinho
Depois de resolver que não ligaria nem mandaria mensagem para Márcio - ele que sofresse mais um dia para aprender a não ser chato -, ela se ajeitou no sofá e bocejou. Poderia esticar-se ali e dormir. Se ligasse para Márcio, ele iria propor um encontro, um cinema, uma coisa enfadonha qualquer. Depois de um novo bocejo, longo e cantarolado, ela olhou para o pequeno aquário, onde o único peixinho sobrevivente, borbulhando, fazia um interminável círculo. Gostava do peixe, como havia gostado dos outros três, mortos. Estar no sofá olhando para o peixinho deu-lhe prazer. Era bom ter um peixinho que não implorava encontros e ficava sempre ali, à disposição dos seus bocejos e dos seus olhos que lentamente se fecharam para o sono.
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