quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Lírica (951) - A lição
Aprendi geografia, história, português, francês, trigonometria. Carreguei na minha infância meus livros, meus dicionários e minha presunção. Minhas notas dez, enfileiradas, chegariam à praça da Sé. Ah, como se orgulhava minha família com minhas álgebras, meus logaritmos, meus tratados de Tordesilhas. Meu futuro seria brilhante, era a frase que eu mais ouvia. Outra era: a instrução é tudo. Ensinaram-me tantas coisas, tantas, não me ensinaram a alegria. Meus antigos colegas, vocês que fugiam das aulas para ir ao cinema ver Carlitos e os Irmãos Marx, por onde andam vocês? Quero lhes dizer que vocês estavam certos e pedir, implorar até, que, por favor, pelo amor de Deus, venham me mostrar como se faz para abrir os lábios e mantê-los assim pelo tempo necessário para conseguir aquele som que eu gostaria de produzir pelo menos uma vez, para aliviar a alma sofrida: aquele gorgolejar desatado, irresistível, cacarejado, destrambelhado de uma gargalhada.
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