quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Lírica (1.175) - A estrela
Esta madrugada, uma estrela caiu na minha rua. Ouvi sua queda, algo assim como um farfalhar de pássaro, olhei pela janela e a vi, debatendo-se, como se estivesse ferida. Como estava escrevendo um poema para você, resolvi não ir lá fora, apesar do alvoroço que imediatamente se formou. Ouvi sirenes de polícia e de ambulância e, logo depois, uma vaia. Decidi então ir saber o que estava acontecendo. A estrela não estava mais lá, mas havia ainda umas cinquenta pessoas. Uma delas, um senhor, me disse que tinham levado a estrela na ambulância, que saíra acompanhada por dois carros de polícia. Começou uma conversa sobre o que se poderia fazer com uma estrela. Um rapaz disse: "Eu dava para a minha namorada." A frase me deixou em dúvida. O que agradaria mais a uma namorada: uma estrela ou um poema? Voltei para dentro de casa e implorei que baixasse em mim o espírito de Fernando Pessoa.
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