segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Lírica (1.221) - Ela
Virá sem se nomear. Eu não saberei quem ela é, e ela não precisará dizer uma palavra. Seus gestos serão os de uma namorada convidando a um longo passeio. Eu a acompanharei como não acompanhei jamais ninguém, nenhuma mulher, e haverá na brisa um perfume que não poderá ser atribuído a nenhuma das flores que se abrirão para nós nos dois lados do caminho. Pensarei que seria esse o olor de uma estrela, se estrelas tivessem olor. Meu corpo, liberto dos desejos terrenos, dançará, não tão graciosamente quanto o dela, mas ela me dirá que os principiantes são assim. Caminharemos para um lugar que não chegará nunca, e eu conhecerei enfim a bem-aventurança de andar por andar, sem ansiedade nenhuma, sem nenhum objetivo, andar sem a necessidade de ser homem, sem a necessidade de ser nada - um floco de nuvem flutuando de mãos dadas com outro floco de nuvem.
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