Às vezes
penso que
posso me acostumar
às alegrias
que imagino
viveres
sem mim
Não é fácil
mas posso
e para
minha sobrevivência
preciso
me acostumar
embora imaginar
essas alegrias
me roa
me corroa
me doa
me mate
E posso
quando sinto muita
pena de mim
fingir
menos fundos
os arranhões
do ciúme
e soprá-los
como se com o sopro
acariciasse o pelo
de uma ovelha
Posso soprá-los
carinhosamente
porque os
arranhões são
afinal
como tantas outras
prodigiosas coisas
algo que vem
de ti
Posso exortar-me
também a
ser menos
odioso e não
te contar que
em certas madrugadas
me mordo
como um cão
que ficou trancado
em casa
sem o dono
E posso ser gentil
talvez eu possa
com os sofrimentos
que por ti
me inflijo
Posso ser
devo ser gentil
com eles porque
há muito tempo
aceito como vida
só aquilo que vem
uma
duas
três vezes
carimbado
por ti
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