quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Lírica (1.268) - A primeira

Gostaria de voltar à rua de luz mortiça, sentir novamente na garganta o coração sufocado, gaguejar outra vez o que gaguejou naquela noite e, subindo acompanhado a escada que gemia gemidos antigos, entrar no quarto soturno no qual poderia ter morado e morrido Raskolnikov. Gostaria de ouvir o ruído da cama agonizante, feito ao menos em parte por ele, e gozar a vertigem final com medo de que fosse o último de seus suspiros. Gostaria. Gostaria, mesmo com o cheiro de urina e creolina pelos cantos e com aquela impressão amarga de que, se o amor fosse aquilo, conviria morrer.

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