Pensou em sair para a noite rasgada pelos raios e sacudida pelos trovões. Pensou em erguer os braços e, desafiando Deus, gritar: "Me leva, me mata!" Ao chegar ao portão, recuou. Lembrou-se do desafio que Antero de Quental fez a Deus, e do desprezo com que Deus o recebeu. Por que ele, um reles Raul Drewnick, filho de obscuros imigrantes poloneses, cronista de meia-tigela e poeta de um real a dúzia, seria atendido? Voltou para dentro de casa e resignou-se a continuar sendo um mártir comum, desses condenados pela covardia a morrer vagarosamente, consumidos pelos miúdos reveses da vida.
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