Ia dizer-te
pedir-te
implorar-te
menina
que jamais
te entusiasmes comigo
que não te fies
nos meus olhos
e em minhas palavras
não confies
Quem há
de acreditar
em alguém
que já louvou o amor
tantas vezes
e tantas vezes
o amaldiçoou?
Sou velho
menina
e nos velhos
tudo que foi bom
já morreu
Vivemos de memórias
do sangue
do que matamos
dizemo-nos melhores
e ainda às vezes
impressionamos
e enganamos
meninas tontas
Ia te pedir
te suplicar
te implorar
menina
que finjas
não ouvir-me
e que fujas
para longe
bem longe
mesmo que seja
para a floresta
Sou velho
muito velho
menina
e se ainda
amor existir em mim
será um amor
manchado
bichado
estragado
como os frutos
já comidos
e recomidos
pelos pássaros
e pelas pragas
Ia me ajoelhar
diante de ti
e pedir-te
que sigas logo
tua trilha
e que para trás
não olhes
menina
não olhes
não olhes
Ia te pedir isso
mas já fui menino
e já sofri tanto
por amor
que talvez
que tomara
tu possas
menina
dar-me ainda
uma alegria
antes que o sol
se vá e a noite
baixe toda
sobre a minha
abominação
e sobre o meu
infortúnio
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