Quando fala de amor, ele já não sabe muito bem do que fala. Tem certa desconfiança, às vezes certeza de que alguma coisa soa em falso nesses momentos. Sente ainda o alvoroço de cinquenta anos atrás, um tremor nas pernas e uma hesitação de voz que podem ser ainda atribuídos à emoção, e não aos estragos da idade. Começa a falar de amor às jovens e elas o ouvem e parecem entendê-lo, e continuam a ouvi-lo, mas há um instante, o supremo, em que ele, talvez mais enternecido do que deveria estar, ouve, tocado pela memória, o bolero Nosotros. Põe-se a chorar, então. E a ele, e também às jovens, parece que o amor de que ele fala é como certos utensílios caídos em desuso.
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