Como aquele gatinho
que apareceu em casa
quando eu tinha cinco anos
e ganhou o direito
de ficar um dia
e foi ficando
e conquistando corações
e territórios
instalou sua majestade
nos sofás primeiro
e depois nas camas
e por alguns meses
como senhor incontestado
andou por onde quis
cravando com as meticulosas unhas
a marca de sua posse
Como aquele gatinho
que certa manhã
como se o tivesse
tocado a mão de Satanás
se enfiou atrás
da geladeira
e com os olhos transformados
em duas malignas labaredas
cruel rasgou
todas as mãos
que lhe quiseram
empurrar água e comida
Como aquele gatinho
eu me enfiei
atrás da geladeira
e espero o momento em que
como o gatinho
me agarrarem enfim
encherem o tanque
e forçarem
meu rebelde focinho
para baixo
para o fundo
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