Quando ela se lembra
de como era o amor
aquele gato bobinho
quando pela primeira vez
ela o sentiu no colo
naquela manhã
agora tão distante
Quando ela se lembra
daquele pelo fofinho
dos olhos remelentos
escondidos pelo sono
e mesmo assim
tão inequivocamente verdes
ela deplora
a patifaria do tempo
Naquela manhã
ah naquela primeira
ela compreendera
como tinha sido precioso
conservar-se menina
para merecer
aquela dádiva cinzenta
aqueles bigodinhos graciosos
aquela cauda que desenhava
travessuras no ar
e aquele receoso coração
tão pequeno
que batia fortíssimo porém
como o de um salteador
a três passos enfim de um tesouro
O tempo continuou
com seus passos lentos
mas continuou
Hoje, lembrando-se
daquela manhã
e olhando para o enorme gato
que dorme escarrapachado
como um porco no sofá
e se comporta
como um inquilino
que nunca pagou aluguel
mas quer ser tratado como rei
ela se pergunta aturdida
cadê aquele meu gatinho
e sente vontade
de pegar pelas orelhas
aquele intruso
e atirá-lo para fora
numa noite de tempestade
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