Era aniversário da menina e o menino lhe levou um gato. Não era lindo, como a maioria, mas também não era feio. Um gatinho não de catálogo, mas apresentável. Ele o achara na rua, na véspera, e, tendo convivido assim com ele um dia, podia garantir que não havia nada de errado com sua gateza.
Se fosse vendedor de gatos, proclamaria, com a convicção de não estar mentindo, que era um gato que funcionava muito bem. Miava fraco, era verdade, porque era pequeno ainda, mas, pelo apetite que demonstrava toda vez que via leite no potinho, logo seria um gato mais forte, mais bonito e, claro, passaria também a miar muito melhor. Sabia dormir também com aquele gosto que só os gatos encontram no sono. O sono e os gatos se amam.
Fazia outras coisas, também, todas aquelas que os outros faziam - e esse foi, por sinal, o motivo de o menino não ter podido ficar com ele mais do que um dia. A mãe disse que já havia sujeira suficiente na casa. Mas era um belo presente, assim pensou o menino ao passar o gato à aniversariante.
"Que feio", ela disse.
"O quê?"
"Ele é muito feio. Eu não quero, não. E já tenho dois, quer ver?"
"Não", respondeu o menino, com o gato de volta no colo e humilhado como jamais havia se sentido.
"Eu te dou outra coisa", ele disse. "Depois eu vejo."
"Não precisa. Vem comer o bolo."
A mãe da garota, que estava distribuindo as fatias, apontou o gato e perguntou:
"Um pedaço para esse cavalheiro também?"
Não parecia haver ironia na pergunta, mas o menino pegou só uma fatia e foi para um canto da sala, o mais próximo da porta. Estava quase se esgueirando para fora quando a irmã da aniversariante, uma garotinha de uns quatro anos, chegou e tirou o gato do seu colo.
"Que lindo, que lindo", ela começou a beijá-lo.
Era uma bela imagem, a menina com o gato, e logo alguns adultos foram tirar fotos.
A aniversariante, então, deslocada assim do centro das atenções, veio pisando firme e arrancou o gato das mãos da irmãzinha, que se pôs a berrar:
"É meu, é meu."
"Não é nada. É meu. Ele que me deu", reivindicou a posse a aniversariante. "Foi ou não foi você que me deu?"
Com o amor-próprio recuperado, o menino disse que sim e deu uma grande mordida no bolo. Sentia-se com direito, agora, a ele. Foi pegar um refrigerante, enquanto as meninas brigavam pelo gato.
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