Não tem mais idade
para bancar o tolo
Não olha mais para o céu
De lá só vêm
ele sabe muito bem
as piscadas obscenas do sol
o câncer de pele
e o desprezo pastoso dos pombos
Olha para baixo
jamais para as pessoas
Sabe que ninguém
nada além lhe daria
que um sorriso casual
ou um educado bom-dia
Olha para o chão
onde crescem as ervas vadias
para as calçadas escorregadias
para o poste usual
onde os cachorros exprimem
sua gratidão
pelo passeio matinal
Olhar para baixo
tem sido o seu destino
e ele o aceita
desde menino
quando descobriu
que as esperanças são vãs
e que o açúcar da vida
não dura senão
quatro ou cinco lambidas
e meia centena de manhãs
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