sábado, 5 de março de 2011
Primeiro andar
Contaram ao homem na lanchonete o caso de um menino que, tendo visto uma onda que lhe pareceu única, não saía mais da beira do mar, esperando sua volta. No início, a família julgou que logo aquilo passaria, mas, como o menino desandasse a escapar de casa e a fugir da escola para ir ver se sua onda reaparecia, a solução foi se mudarem para uma cidade a quatrocentos quilômetros do mar. O homem ouviu a história, sorriu amargamente e disse que com ele acontecera algo semelhante. Estava com quarenta anos e, com trinta e oito, vira passar diante da lanchonete uma mulher que o seduzira a tal ponto que ele começou a se postar ali na frente todos os dias, no seu horário de almoço, esperando que a maravilhosa aparição se repetisse. Passou a chegar tarde ao trabalho e a sair dele mais cedo para se manter mais tempo em vigília. Foi despedido e, para não repetir o erro, conseguiu uma ocupação bem ali, no edifício em cima da lanchonete, onde fazia dois anos já que, quando não estava no horário do almoço, ficava olhando para baixo, olhando, olhando. Terminando a conversa, revelou, como se fosse um general, que descartara uma boa oportunidade no décimo andar e ficara com uma, de menor remuneração, no primeiro.
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