Esperava o sol
mas em vez dele
veio uma chuva furiosa
que desdizia
qualquer definição
decente
de um sábado
de manhã
Da janela
tentou ver o mar
em busca de um
bom sinal meteorológico
mas a chuva
com a ajuda
de uma repentina névoa
tinha tragado o mar
com todas as suas ondas
Pôs o calção
e a camisa de futebol
como se fossem
amuletos propiciatórios
mas a chuva ignorou o calção
e desdenhou a bola
que nas mãos dele
olhava também para
onde deveria estar o mar
e ansiava pela areia
pelo sol pela correria
pelos gritos viris de gol
Choveu
com uma crueldade
desatada de dilúvio
enquanto ele e a bola
esperavam ainda
a aparição do sol
mesmo que viesse
com desculpas deslavadas
Esperar cansou
e com a bola
ao pé do sofá
como um cão vigilante
o homem se deitou
confiando que aquela
fosse só uma chuva de verão
Veio a tarde
e a chuva continuava
e com ela veio
do mar um vento
conspurcado de imprecações
de piratas enforcados
e começou a
sacudir o edifício
como se o tivesse
confundido com um navio
e quisesse afundá-lo
com todos os seus tripulantes
e tesouros
Choveu a tarde inteira
e o homem
e a bola
sonhavam no sofá
com chutes
matematicamente
certeiros
e com um sol
cegando
os dois goleiros
Quando o homem acordou
a chuva persistia
em negar o sábado
em humilhá-lo
com cusparadas
atiradas contra as janelas
e o mar continuava oculto
por ela e pela
noite que chegara
reivindicando também
seus direitos de ocultação
Ele trocou então
por uma calça
o calção
e a camisa de time
por uma social
e com pena da bola
que já não poderia levar
desceu para um bar.
Ia reconciliado
com o sábado porque
assim como os outros dias
à noite
todos os sábados
são pardos
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