quarta-feira, 18 de maio de 2011
O fruto
Cansado já dos frutos que encontrava pelo caminho, habituei meus olhos a ignorá-los, minhas mãos a esquecer-lhes a maciez e minha boca a desdenhar-lhes o gosto. Atrofiaram-se assim pouco a pouco os olhos e as mãos se embotaram. Uma tarde, porém, quando andava pelo mesmo caminho, um fruto novo, igual a nenhum dos que eu havia visto, acendeu-me vivo lampejo no olhar e as mãos se inquietaram. Afastei-me apressado e passei a evitar aquele caminho, mas nas mãos e nos olhos se excitou tamanha ânsia de contemplação e posse que tempos depois retomei o antigo caminho e, com a boca antegozando seu sabor e as narinas adivinhando-lhe o aroma, procurei o fruto. Tarde demais. Alguém o colhera, e minhas mãos e meus olhos, desinteressados de todos os outros frutos, novamente se entregaram à indiferença e à apatia.
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