As palavras já se cansaram de mim, não me obedecem mais. Empreguei-as tanto, em vão, para chamar de volta o amor, que elas se recusam agora a participar dos poemas que não lês e das mensagens que desdenhas. Convoco-as ainda, adulo-as, mas elas fingem ser mudas. Ficam em silêncio por horas. Agora há pouco, fui pé ante pé aonde elas estavam e, não me vendo, elas se sentiram à vontade para falar de mim. "Ele insiste em me usar, o infeliz. Não vê que não funciono mais", queixou-se uma. E outra, rindo, concordou: "E eu, então? Quando ele vai perceber que eu sou uma palavra do século passado?" Era a ternura conversando com o afeto. Saí silenciosamente para não ouvir mais nada.
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