Anda ruim da cabeça, é o que diz às amigas, todas já setentonas como ela. Hoje, por exemplo, assim do nada, lembrou-se de uma tarde muito antiga, em que devia ter sete ou oito anos e, indo comprar um sorvete, chorou porque lhe faltava uma moeda para completar o preço. O dono da padaria, um homem gorducho, careca e barbudo, lhe deu o sorvete assim mesmo e a beijou duas vezes no rosto. Nessa memória de um dia tão distante, introduziu-se hoje uma cena que ela só pode atribuir à sua idade atual e à sua imaginação. Depois dos dois beijos, o homem deu-lhe também dois apertões nos peitos e sorriu: "Você está ficando uma mocinha."
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